segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Empedramento de pós é dependente da atividade de água, tempo e temperatura

O empedramento de pós durante o manuseio, manipulação, embalagem e armazenamento é um problema onipresente tanto na indústria de alimentos como farmacêutica. O problema pode ocorrer durante o processamento e a estocagem de pós amorfos.




Empedramento é a formação permanente de aglomerados devido a adesão das partículas e eventualmente pode resultar na perda da funcionalidade e diminuição da qualidade. O empedramento pode reduzir a recuperação do produto durante a secagem, longo tempo de processamento por causa de obstrução dos funis e tubulação e reduzir a vida de prateleira do produto.

Há inúmeros métodos propostos para verificar as propriedades de fluidez, desde um simples teste que consiste em girar um propelente em um tubo com pós até um teste de fluidez complexo com  um aparato conectado a um analisador de textura.

Empedramento é dependente da atividade de água, tempo e temperatura e está relacionado ao fenômeno de colapso do pó sob ação da força da gravidade. Os estágios do empedramento envolvem  formação de pontes, aglomeração, compactação e liquefação.

Fatores conhecidos por afetar a cinética do empedramento podem ser divididos em propriedades intrínsecas do próprio pó (tamanho e distribuição de partícula, higroscopia, carga da partícula, estado do material, presença de impurezas, e temperatura de transição vítrea) e fatores externos como a temperatura, umidade relativa e estresse mecânico aplicado na substância. Se o pó é um vidro amorfo, a transição do estado vítreo para emborrachado torna o pó suscetível ao empedramento devido ao aumento da mobilidade molecular no estado emborrachado.

A transição vítrea pode ser induzida ou pela temperatura ou umidade e proteger os pós contra a transição vítrea através da embalagem e condições de armazenamento ajudará a manter a estabilidade.

A temperatura na qual a transição vítrea ocorre a uma dada atividade de água tem sido identificada como a temperatura de transição vítrea (Tg). A atividade de água onde ocorre a transição vítrea a uma dada temperatura tem sido identificada como atividade de água crítica (awc) ou umidade relativa crítica (RHc).
A plasticização da superfície da partícula e a redução drástica na viscosidade da superfície que ocorre na transição vítrea é a razão de ser o principal contribuidor para resultar no aumento da velocidade de empedramento. Especificamente, a taxa de empedramento tem sido relatada como a diferença entre a temperatura de armazenamento (T) e Tg (T-Tg), que pode ser modelado usando a relação Williams, Landel and Ferry (WLF).

A taxa de empedramento de pós alimentícios é também relacionada a umidade de sorção e mudanças na atividade de água. Se a umidade durante o armazenamento aumenta, a taxa nas mudanças na força de aglomeração e o índice de empedramento aumentam significantemente.

Similar ao efeito de aumento da T-Tg no empedramento, o aumento da taxa de aglomeração relacionado a atividade de água mais alta, provavelmente é o resultado de se deslocar para cima a atividade de água crítica para a transição vítrea.
Tradicionalmente, esse valor de RHc era determinado executando análises de Tg em múltiplos níveis de atividade de água. No entanto, recentemente foi desenvolvido o método de isotermas dinâmico por ponto de orvalho (DDI) que tornou possível determinar diretamente a RHc para transição vítrea em pós amorfos de baixo peso molecular em uma dada temperatura.



terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Equações de isoterma de sorção de umidade (Introdução)

A equação da isoterma de sorção de umidade descreve matematicamente a relação entre a atividade de água (aw) e o teor de umidade relativa de equilíbrio. As isotermas de sorção de umidade são utilizadas para um grande número de propósito para pesquisas em alimentos e medicamentos.

Incluem, cálculo de tempo de secagem, predição de mistura de ingredientes, embalagem e modelagem de mudanças na umidade que ocorrem durante a estocagem e predição da estabilidade da vida de prateleira.


Uma isoterma de sorção de umidade pode ser dividida em três regiões, dependendo do estado da água presente.

  • A primeira região que cobre a faixa de aw de 0,00 a 0,35 representa a adsorção do filme monomolecular de água.
  • A segunda região grosseiramente cobre de aw entre 0,35 e 0,60 e representa a camada de adsorção adicional de água sobre a monocamada.
  • Finalmente a terceira região com aw acima de 0,60 representa a região onde a água é condensada dentro do poros do material, seguido pela dissolução dos solutos presentes.

As três regiões não podem ser definidas por valores de aw específicos e podem se sobrepor. Dessa forma, muitas equações para isoterma foram desenvolvidas baseadas em uma faixa particular de aw, sendo que nenhuma equação ajusta-se perfeitamente em toda a faixa de aw.

As razões citadas na literatura por não ter uma equação única para isoterma são:

  • a depressão da aw nos alimentos é devido a combinação de fatores e cada um pode ser predominante em uma dada faixa de aw;
  • a isoterma de sorção de umidade de alimentos representa propriedades higroscópicas de muitos componentes integrados, cujas propriedades de sorção podem alterar devido a interações físicas e ou químicas causadas por aquecimento ou outros pre-tratamentos;
  • e conforme os alimentos adsorvem ou dessorvem água, podem ocorrer mudanças na dimensão e propriedades de transferência de umidade que afetam a velocidade de sorção.



terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Migração da água em produtos de confeitaria 2

Na postagem anterior vimos que o bolo tradicional de frutas se mantém estável devido a atividade de água de seus componentes estarem em equilíbrio.

Porém se o seu produto for composto de camadas que não se consegue colocar a atividade de água em valores próximos, o que fazer?

Supondo que você está produzindo sorvetes em casquinhas temos que a atividade de água da casquinha deve ser baixa para que se mantenha a crocância característica. E a aw do sorvete é mais elevada devido a sua maciez e fluidez, e quando em contato, a casquinha com o sorvete, mesmo a baixa temperatura, haverá a migração da água até o estabelecimento do equilíbrio da aw.

Para se evitar a migração da água, deve-se utilizar o recurso de barreiras, como os filmes comestíveis ou no caso do chocolate uma camada de chocolate.
O chocolate evitará que a água do sorvete migre para a casquinha, mantendo-a crocante.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Migração da água em produtos de confeitaria


Bolo tradicional de frutas tem os ingredientes:
farinha, açúcar, frutas cristalizadas, uva passa, manteiga, ovos e  nozes.

Apesar da grande quantidade e diversidade e ingredientes, esse bolo tem uma vida de prateleira longa para um bolo com frutas.

Na tabela abaixo podemos ver as medidas de atividade de água e umidade.
aw
umidade (% bs)
Massa (bolo)
0,857
24,5
Frutas (mistura)
0,862
52,2

Podemos ver que a umidade da massa do bolo é de 24,5%, menos da metade da umidade da mistura de frutas, entretanto o bolo se mantém estável não havendo migração da água entre os componentes.
Isso se deve ao valor de atividade de água estarem em equilíbrio, lembrando que a água da mobilidade, ou seja a água que migra é a atividade de água. 
Neste caso, mesmo a umidade entre a massa do bolo e das frutas serem bastante diferentes, não haverá migração da água entre os componentes pois a atividade de água está em equilíbrio.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Fluidez e empedramento de açúcar

Empedramento de um sistema granulado é o fenômeno da perda de sua fluidez (escoamento), originado pela soldagem dos pontos de contato entre os grânulos.
Estágios envolvendo empedramento:
Umedecimento
Formação de ponte
Aglomeração
Compactação

Liquefação

Os fatores que predipõem o açúcar a empedrar são aqueles que possibilitam a troca de aw do cristal com a atmosfera envolvente, sendo fatores:
próprios do açúcar, como a sua
umidade, atividade de água
temperatura,
teor de açúcares redutores,
granulometria, etc.
dependente do armazém em que o produto está estocado (condições atmosféricas)

Peleg, M. and Mannheim, C. H. (1977). The mechanism of caking of powdered onion. 
Journal of Food Processing and Preservation. 1:3-11.

Para se manter as propriedades de fluidez e prevenir o empedramento de pós
Estabelecer o valor de aw crítico
Tratamento dos pós para valores abaixo do aw crítico.
Utilizar embalagem de alta barreira a umidade
Armazenar a baixas temperaturas
Saches dessecantes
Adição de agentes antiumectantes

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Citação do Inmetro sobre aw no açúcar


açúcar refinado é classificado como produto alimentício microbiologicamente estável, ou seja, a incidência de contaminação dessa natureza neste tipo de alimento é muito pequena por se tratar de produto com baixíssima atividade de água, o que inibe a proliferação de micro-organismos.

Em relação às possíveis contaminações microbiológicas que o produto pode vir a sofrer, a mais preocupante é a que se refere à contaminação por Salmonela.
A contaminação por bactérias desta classe pode ocorrer através de manipulação inadequada do produto ou através da matéria-prima utilizada e que, mesmo em pequenas quantidades, pode causar, principalmente, problemas gastrointestinais e dores de cabeça, seguidas de vômito, diarreia e febre.


A contaminação por bolor, vulgarmente conhecido como mofo, considerado como deteriorante em potencial de alimentos, está relacionada, principalmente, à problemas de conservação e armazenamento do produto. Entretanto, não representa risco para a saúde humana, principalmente, porque o consumidor dificilmente ingerirá um produto contaminado por este tipo de fungo, já que, quando manifestado, ele é perceptível a olho nu, além de deixar cheiro e sabor característicos no alimento.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Atividade de água em açúcar




O conteúdo de água no açúcar é composto de:
- Atividade de água: envolve externamente os cristais de açúcar, possível
de ser removida em secadores até uma aw de 0,3 0,5 para açúcar cristal.

Umidade interna: incorporada internamente ao cristal de açúcar. O
excesso dessa umidade migra por difusão até atingir o equilíbrio com a umidade do
ar ambiente. A migração desta umidade é lenta e a sua remoção somente é possível por condicionamento do açúcar até o seu equilíbrio com o ar ambiente.

Umidade oclusa ou inerente: contida no interior do cristal na forma de oclusões em forma de “bolsas de mel” que somente poderão ser removidas ou por moagem ou por dissolução.


Película de mel envolvente, formando um menisco líquido entre os cristais de açúcar 
Dois estados de equilíbrio determinam a composição da película de mel: 
O primeiro estado de equilíbrio diz respeito ao açúcar: a película de mel está sempre saturada de açúcar, o qual é dissolvido do cristal ou restituído ao mesmo.
O segundo equilíbrio diz respeito à água: em uma determinada temperatura, a pressão de vapor da água contida no ar é igual à pressão de vapor da película devido à presença de solúveis no mel.
É possível assim definir a atividade de água do açúcar como sendo a umidade relativa do ar que está em equilíbrio com este açúcar (não há transferência de água entre cristal/mel/ar). 
Mohamed Mathlouthi and Barbara Roge. Caking of White sugar and how to prevent it

O açúcar cristal pode ser considerado em equilíbrio com o ar ambiente, quando não
absorve nem fornece água para o ambiente. Se o ar ambiente se tornar mais úmido, o
açúcar absorverá água aumentando sua aw e no caso inverso, com o ambiente
mais seco, o açúcar se tornará mais seco fornecendo água ao ambiente.