quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

História sobre a pesquisa de atividade de água



   William James Scott, australiano, microbiologista graduado pela University of Melbourne e doutor em ciências pelo Council for Scientific and Industrial Research (CSIR) foi o primeiro a descrever a relação entre o desenvolvimento microbiano e a água. No início de sua carreira profissional Scott trabalhou com manuseio, resfriamento e transporte de carnes resfriadas, exportadas para a Grã Bretanha. 
   Durante a II Guerra Mundial foi microbiologista das Forças Aliadas e pós guerra foi pioneiro no estudo da relação entre a água e os micro-organismos.
   Em 1953 Scott apresentou o conceito de  que os micro-organismos tem um nível limitante de atividade de água para se desenvolverem e somente nos últimos anos foi aceita que a atividade de água está mais intimamente relacionada com os micro-organismos, reações químicas e propriedades físicas de alimentos,  do que a umidade.
  Ele demonstrou claramente a relação entre  aw do meio de cultura e a velocidade de crescimento do Staphylococcus aureus através de um experimento com 14 cepas de S. aureus toxigênicos incubados em meios com diferentes aw a 30°C. O desenvolvimento aeróbico dos  S. aureus foi observado entre as aw 0,999 e 0,86 e tanto a velocidade de crescimento quanto a quantidade de células reduziram substancialmente em aw  menor que 0,94. 

   Constatou-se também que o limite de desenvolvimento desses micro-organismos em carnes, leite e sopa desidratados foram os mesmos do meio de cultura. O desenvolvimento aeróbico ocorreu em limite de aw ligeiramente inferior ao cultivo anaeróbico. Todas as células foram capazes de formar colônias em meio ágar com aw até 0,92 e as 14 cepas foram homogêneas no requerimento de aw.
   Depois do trabalho de Scott, a aw tornou-se uma das propriedades intrínsecas mais importante para predizer a sobrevivência e crescimento dos micro-organismos nos alimentos devido a sua influência direta na estabilidade e qualidade dos produtos.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Alteração Volumétrica de Sucos em Garrafas de PET causa multa pelo INMETRO




 Prof. Dr. José de Assis Fonseca Faria
Unicamp - Faculdade de Engenharia de Alimentos

 1 – O Problema

Mediante solicitação de empresas do setor de frutas, decidiu-se sobre a necessidade de uma pesquisa para avaliar a variação volumétrica de sucos acondicionados em garrafas de polietileno tereftalato (PET), pois tal fato tem causado problemas quanto ao atendimento da especificação correta do volume expressa no rótulo das garrafas que, consequentemente, são multadas pelo Imetro.

Visando a solução do problema, essa pesquisa teve como objetivo verificar a alteração do volume inicial de sucos de caju e de uva envasados em garrafas de PET monocamada (pré-forma 18,6 gramas), durante estocagem em temperaturas constantes de 25, 35 e 45°C. Pretendeu-se, ao expor os sucos a essas temperaturas, simular condições de comercialização normalmente encontradas no território nacional e, com base nos resultados experimentais, estimar a vida de prateleira dos sucos para outras situações de comercialização.

Tal procedimento baseou-se na hipótese de que a diminuição do volume inicial do suco se deve basicamente à transferência de massa (vapor de água) do interior da garrafa para o ambiente externo, em função do gradiente de vapor de água causado pela umidade relativa das diferentes regiões de comercialização dos sucos.

Avaliou-se, também, a taxa de permeabilidade ao vapor de água (TPVA) de garrafas com pré-formas de 28, 22 e 18,6 gramas, para verificar o efeito da redução da espessura sobre a perda de barreira dessas garrafas.

2– Amostras Testadas
As amostras de sucos de uva e de caju foram recebidas em caixas de papelão ondulado contendo os sucos envasados em garrafas PET de 500ml da marca X, em 06/07/09, com a seguinte codificação:
Suco de uva L 90513011 B-115606, validade 08/04/2010.

Suco de caju com alto teor de polpa L 90511011 E-115436, validade 06/01/2010.

3 - Metodologia
A alteração de volume dos sucos ao longo da estocagem simulada foi feita gravimetricamente, ou seja, através de determinações semanais do peso das garrafas contendo os respectivos sucos, calculando-se o volume com base na densidade da água a 25°C.
Em cada estufa isotérmica (25, 35 e 45°C) foram colocadas 10 garrafas de cada suco para as pesagens semanais, durante 50 dias de testes.
Nota: as estufas não possuíam controle da umidade relativa, portanto os valores variaram em função das condições climáticas locais (Campinas-SP), situando-se entre 30 e 50%.

Vale esclarecer que não existe uma metodologia específica para esse teste, entretanto, baseou-se nas recomendações ABNT-NBR 15395 (2006) e ASTM-F 1115-95 (2001), ambas para testes e métodos de ensaios em garrafa soprada de PET.

A determinação da taxa de permeabilidade ao vapor de água (TPVA) das garrafas com diferentes pesos de pré-formas (28, 22 e 18,6 gramas) foi baseada na norma ASTM Method E 96 (2009).  Foi colocada água destilada no interior das garrafas recebidas para o teste e fechadas com as mesmas tampas utilizadas para os sucos. Em seguida essas garrafas foram acondicionadas em dessecadores contendo sílica gel e estocadas a 25, 35 e 45°C, para o monitoramemnto da perda de peso.


      4 - Resultados e Discussão

4.1 – Perda de peso
     
 Os dados coletados semanalmente ao longo da estocagem dos sucos de caju e uva encontram-se no Anexo.

Com base nos valores médios das diferenças de peso das garrafas em relação ao peso inicial, construíram-se os respectivos gráficos de perda de peso, em função do tempo de estocagem, conforme ilustrados nas Figuras 1 e 2.

Observa-se que a perda de peso para ambos os sucos ocorreu seguindo função linear, com excelente correlação (R2=0,99), com o tempo de estocagem.

As taxas de perdas, ou seja, as inclinações das retas para o suco de caju nas respectivas temperaturas foram: 0,028 g/dia a 25°C, 0,085 g/dia a 35°C e 0,155 g/dia a 45°C, indicando também o efeito da temperatura.

O mesmo foi observado para o suco de uva, a saber: 0,028 g/dia, 0,084 g/dia, 0,153 g/dia, não se evidenciando diferenças significativas entre os dois tipos de suco.

Esse comportamento semelhante se deve ao fato de os dois tipos de suco apresentarem quase a mesma atividade de água e estarem expostos às mesmas condições de umidade relativa de estocagem.

Com base nas taxas de perda de peso nas três condições experimentais, pode-se calcular o efeito da temperatura por meio da relação entre as taxas, ou seja, pelo valor Q10, a saber:
Q10 = 0,085/0,028 = 3,0 e Q10 = 0,155/0,085 = 1,8.

Esses valores indicam que a perda de peso em relação a 25°C, será 3 vezes maior para o suco comercializado em um ambiente de 35°C e cerca de  6 vezes maior em um ambiente de 45°C, evidenciando-se dessa forma o efeito exponencial da temperatura sobre a redução do volume do suco envasado nessas garrafas de  PET.

Utilizando-se as equações expressas nas Figuras 1 e 2, pode-se estimar o valor da perda de peso de cada suco nas respectivas temperaturas, ou seja, estimar o número de dias necessário para causar certa redução crítica do volume do suco, ou pela interpolação lida diretamente no gráfico.

Como exemplo de cálculo utilizando a equação, pergunta-se: quanto tempo gastará para o suco de caju perder 1% (5ml) de seu volume inicial, se for comercializado em um clima cuja temperatura média é 35°C?
Utilizando-se a equação y = 0,0853x - 0,5961, onde  y = perda de peso ou líquido expresso em gramas e x = o tempo expresso em dias, tem-se:

x = (5 +0,5961)/0,0853 = 66 dias.

O mesmo calculo poderá ser feito para outras possíveis situações de comercialização, utilizando-se as respectivas equações geradas neste experimento. Vale ressaltar que essas equações são especificas para as condições testadas, mas podem ser extrapoladas para outras situações semelhantes de temperatura e umidade relativa. Com base na teoria de transferência de massa, quanto menor for a umidade relativa do ambiente maior será a perda de peso, portanto, se o suco for comercializado numa região quente e seca, mais crítico será o problema.


 Figura 1 – Perda de peso das garrafas de PET contendo suco de caju durante estocagem simulada.


Figura 2 – Perda de peso das garrafas de PET contendo suco de uva durante estocagem simulada.



44.2 – Permeabilidade das garrafas

As Figuras 3, 4 e 5 mostram as perdas de pesos das garrafas provenientes das pré-formas de 18,6g, 22g e 28g nas temperaturas 25, 35 e 45°C, respectivamente.

As inclinações das retas indicam os valores das taxas de permeabilidades para cada pré-forma e temperatura. Por exemplo, para a garrafa de 18,6 gramas, a mesma utilizada no envase dos sucos, a TPVA = 0,0549 g água/dia, determinada a 25°C com gradiente de pressão de vapor de 100%UR.

Semelhante ao que ocorreu nos sucos, a perda de peso foi linear e exponencial com relação à temperatura de teste. Também, como já se esperava, quanto mais pesada for a garrafa menor será a permeabilidade, conforme mostra a Figura 6.

Através do TPVA das garrafas, pode-se estimar a perda de peso dos sucos considerando a umidade relativa do local de comercialização, utilizando-se uma equação genérica, a saber:


            PP = TPVA . (100-URc)/100 .  t
           
            onde:

            PP = peso de peso (g);
            TPVA = taxa de permeabilidade ao vapor de água da garrafa (g/dia);
            URc = umidade relativa do local de comercialização (%);
t = tempo, ou vida de prateleira,  para ocorrer a perda de peso (dia).

Por exemplo, quanto tempo gastará para o suco perder 5ml, se for comercializado em um local cuja umidade relativa é 30% ?
Resolvendo pela equação acima, tem-se: 5 = 0,0549 . (100-30)/100 . t = 130 dias.





Figura 3 -  Perda de peso das garrafas durante o teste de TPVA a 25°C.




Figura 4 -  Perda de peso das garrafas durante o teste de TPVA a 35°C.




Figura 5 -  Perda de peso das garrafas durante o teste de TPVA a 45°C.






Figura 6 – Correlação entre a permeabilidade e o peso das garrafas a 25°C.

5 – Conclusões

A perda de peso, ou seja, a redução do volume dos sucos é muito afetada pela temperatura e umidade relativa do ambiente de comercialização, pois a garrafa de PET de 18,6 gramas é bastante permeável.
A taxa de perda de peso é semelhante para os sucos de caju e de uva, portanto, as estimativas podem ser extrapoladas para outros sucos ou outros produtos líquidos envasados nessas garrafas.

Pode ser estimado o tempo de perda de peso ou a vida de prateleira dos sucos, com base nas equações geradas neste experimento, ou utilizando-se o TPVA e a UR do local de comercialização.

Notou-se que a barreira da garrafa diminui na mesma razão que se reduziu sua espessura, portanto, devem-se evitar garrafas de baixo peso no envase de sucos a serem comercializados em ambientes secos e quentes.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Desafio da redução de sódio na alimentação e a sua preservação

Devido ao aumento de doenças crônicas não transmissíveis como hipertensão arterial, cardiopatia, nefropatias, as entidades médicas e para-médicas se organizaram para discutir o consumo de sal pelos brasileiros.
Segundo o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional os brasileiros consomem em média 9,6 g/dia de cloreto de sódio, sendo que a recomendação da  Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 5,0g/dia.

Desde o 1° Seminário de Redução de Sódio nos Alimentos Processados, realizado em 23 de junho de 2010, os fabricantes e suas entidades de classes veem apresentando propostas de redução gradativa de cloreto de sódio em seus produtos.

Inquestionável o benefício da redução do sal para a saúde.

A utilização do sal é milenar, tanto para preservação do alimento quanto para realçar o sabor.
O sal reduz a atividade de água do alimento, portanto ajuda na sua preservação, retardando o desenvolvimento microbiano, e as reações físico-químicas como oxidação, escurecimento enzimático e não enzimático.

A campanha para redução de sal nos alimentos além de alterar um comportamento alimentar, leva as indústrias do setor de ingredientes a procurarem alternativas organolépticas e também para a conservação dos alimentos, mostrando-se tratar de um desafio complexo.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Por que medir atividade de água

Sendo a atividade de água um parâmetro qualitativo, a sua determinação nos produtos como alimentos, cosméticos, fármacos, materiais, é muito importante.

Medindo-se a atividade de água pode-se predizer alguns fatos importantes como:
  • Suscetibilidade microbiana
  • Velocidade das reações de oxidação
  • Reações de escurecimento não enzimáticas
  • Atividade enzimática
  • Migração da água em produtos com multi-fases
  • Determinação do tipo de embalagem
  • Tempo de vida de prateleira
Conheça os equipamentos que medem atividade de água aqui.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Umidade


A umidade é muito conhecida nos laboratórios, e geralmente é calculada através da perda de peso por temperatura. Ou seja, pesa-se uma alíquota de amostra, coloca-a em estufa com alta temperatura para desidratar o material.

Após um certo período de tempo desidratando, pesa-se novamente a amostra "fria". Repete-se esse processo até não haver mais perda de peso, indicando que o material está completamente desidratado.


Para calcular a quantidade de água, subtrai-se o peso final da amostra desidratada do seu peso inicial e tem-se a quantidade de água evaporada que pode ser transformada em pocentagem.

A porcentagem de água, ou seja de umidade do material é importante para o cálculo da sua composição centesimal, por exemplo sem a umidade, quantos porcentos de proteína, carboidrato, lipídeos, etc., compõem o seu alimento. Ou quantos porcentos de polímeros, estearatos, lauril compõem seu cosmético.

Portanto a umidade é a medida quantitativa da água presente em um produto e esse valor é importante para cálculo em base seca e base úmida.


Por conter várias etapas, essa técnica é passível de erros e imprecisões.

Balanças com lâmpadas infravermelho, reduzem as etapas e tempo de análise.

Produtos com grandes quantidades de açúcares necessitam de desidratação a baixa temperatura e vácuo.

Outros métodos de determinação de umidade utilizam solventes e são indicados para produtos com baixo percentual de umidade.

A porcentagem de umidade não é indicativa da suscetibilidade microbiana, nem predição da velocidade das reações físico-químicas.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O que é atividade de água

Em termos técnicos a definição de atividade de água (aw) é a medida do estado de energia da água.

Explicando:


Ao tocarmos a ponta de uma esponja na água de um béquer, a água migrará para dentro da esponja. 
A água que está na esponja é a mesma que está no béquer?

Quimicamente a água da esponja e a do béquer são iguais, mas fisicamente passaram a ser diferentes.


O estado da energia da água na esponja é diferente do estado de energia da água no béquer. A água na esponja tem menor pressão de vapor, menor temperatura para congelar e maior temperatura para ebulir, pois ela está presa na matriz da esponja por capilaridade, tensão superficial.

A esse Estado de Energia foi denominada Atividade de Água
  

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A procura do equilíbrio

Você já reparou que tudo tende a entrar em equilíbrio com o ambiente ao seu redor?

Ao colocar uma garrafa de água na geladeira, espera-se que ela entre em equilíbrio com o ambiente interno e reduza a temperatura da água.
O tempo que demorará para a água entrar em equilíbrio com a temperatura interna da geladeira dependerá do material da garrafa (plástico, metal, cerâmica, etc.), do formato da garrafa, do volume de água. 

O efeito osmótico parte do mesmo princípio do equilíbrio, onde por exemplo a água se deslocará da solução menos concentrada para a mais concentrada até atingir o equilíbrio.


Na figura acima foram acondicionados dentro de embalagens herméticas amostras de alimento e de água. Com o decorrer do tempo o ar contido nas embalagens entrará em equilibrio com as amostras, mais especificamente o vapor de água da camada do ar, entrará em equilíbrio com a "atividade de água" do alimento e da água. O equilíbrio ocorre quando uma molécula de água da amostra evapora e então uma molécula de água da fase gasosa se condensa.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

A água e sua atividade específica





A água presente no mundo é a mesma há milhões de anos, nem em menor ou maior quantidade.

O que varia é a sua qualidade e a forma de apresentação.

A água é o produto químico mais conhecido e utilizado como solvente e como veículo, e a sua presença é estudada em suas formas líquida, sólida e gasosa.

Neste blog queremos discutir uma pequeníssima porção da água, presente nos materiais, alimentos, cosméticos, fármacos, ração, cimento, argamassa e diversos outros produtos.

Apesar de quantitativamente pequena, essa água é responsável pela textura, cor, tempo de vida-de-prateleira, deterioração microbiana, bioquímica, físico-química dos produtos.

A água que queremos discutir recebeu a denominação de "atividade de água", derivada do potencial químico da termodinâmica que estuda a tendência ao equilíbrio.